quarta-feira, 5 novembro, 2025

Vida de imigrante: 11 lições que aprendi vivendo um ano fora do Brasil

Nunca sonhei em viver em outra pátria que não a minha. Meus planos de viajante sempre foram com ida e volta marcada — no papel de turista, não de imigrante. Mas o destino, esse roteirista imprevisível, adora embaralhar certezas e nos apresentar caminhos que a gente nem sabia que existiam.

De forma quase silenciosa, a vida foi me entregando peças de um quebra-cabeça que eu nem sabia estar montando. E, quando percebi, tudo já estava ali, encaixado com leveza, como se fosse mesmo para ser.

Jamais imaginei que, em apenas 56 dias, minha vida plantaria bananeira e eu atravessaria o Atlântico para viver em um lugar que mal conhecia (e que só fui localizar no mapa dois meses antes). Pois é. A vida tem dessas. E eu costumo dizer que estou pronta para tudo… ou, pelo menos, gosto de achar que estou.

Ao lado do meu marido Victor, no dia da despedida (temporária) do Brasil

Foi assim que, com meu marido e meus cunhados, desembarquei na Espanha para viver um ano em Sevilha – terra do flamenco intenso, das laranjeiras perfumadas e do calor que derrete até pensamento. Um destino ainda pouco explorado por brasileiros, mas cheio de alma.

É fato: dentro ou fora do Brasil, a vida nos ensina o tempo todo. Mas foi a primeira vez, em 30 anos de vida, que experimentei a realidade de viver como imigrante. E por isso, com o coração aberto e cheio de afeto, compartilho aqui algumas das lições que aprendi vivendo longe da minha terra-mãe — e dos meus, que tanto amo e que seguiram comigo no peito, mesmo de longe.

Viaje mais gastando menos! Baixe gratuitamente o aplicativo do Melhores Destinos ou assine nossa newsletter para não perder promoções de viagens!

1. Desacelerar

Se tem uma coisa que aprendi morando na Espanha (e, agora, levo para vida) foi a importância de desacelerar — e nisso os espanhóis são verdadeiros mestres. Resumindo bem o aprendizado: a gente precisa trabalhar para viver, não viver para trabalhar.

Não estou falando de luxo ou folga eterna, mas de uma cultura que valoriza pequenas pausas, momentos de respiro, e que entende que qualidade de vida está nas coisas simples.

É parar para um café sem pressa no meio da manhã, esticar o almoço com direito à siesta (cochilinho mara), aproveitar o fim de semana caminhando pelas ruas ensolaradas ou indo à praia mais próxima sempre que dá. E, claro, sempre celebrar a vida com uma cerveja gelada (para quem gosta, claro!).

Sentar para tomar um solzinho no meio do dia, sem maiores pretenções

É óbvio que nem todo mundo tem o mesmo acesso a esses momentos, mas, no geral, as pausas parecem fazer parte do cotidiano de muito mais gente por lá do que aqui, do outro lado do oceano.

Nunca esqueço quando via a maioria do comércio em Sevilha fechado por pelo menos quatro horas no meio da tarde. Quatro! Aquilo me fazia pensar: o tempo de descanso vale mais do que a chance de vender um pouco mais, principalmente no verão escaldante que exige mais do nosso corpo.

Outra cena que sempre me marcou era ver os moradores, não turistas, sentados num banco qualquer, no meio do dia, apenas tomando sol ou olhando o movimento. Sem celular, sem conversa, só… ali. Presente.

É um tipo de desaceleração que a gente desaprende no piloto automático da rotina. E que reencontrar foi uma das maiores riquezas dessa experiência.

2. Lar é onde seu coração está

Desde muito cedo, eu sabia que queria explorar o mundo. Mas, sinceramente, nunca me imaginei vivendo o papel de imigrante. Então, quando a empolgação da mudança deu lugar ao cotidiano, bateu aquele medo: e se eu não me adaptasse?

Com o tempo e a maturidade embutida no viver fora, fui entendendo algo profundo: que lar é onde o coração encontra paz. A Espanha virou meu novo lar, mas o Brasil jamais deixou de ser o primeiro. Hoje, carrego os dois dentro de mim. E mais: tive a sorte de viver essa fase ao lado do meu parceiro Victor, meu lar em forma de gente.

Pode soar clichê, eu sei, mas quem já viveu isso entende: quando você está em paz consigo mesmo e com quem te cerca, qualquer lugar do mundo pode ser seu lar. Na Espanha, no Brasil, na China, em uma casinha de sapê ou no apartamento dos sonhos, isso não tem a menor diferença.

3. Viver o agora

“Todos nós temos duas vidas. A segunda começa quando percebemos que só temos uma.” Li essa frase pintada em uma parede e ela ficou ecoando na minha cabeça por dias. O mais impactante, para mim, é pensar que nem todo mundo vai despertar para essa tal “segunda vida”.

Sempre fui uma pessoa intensa e otimista, que busca enxergar o lado bom das coisas e aproveitar oportunidades. Mas só quando fui morar fora do Brasil é que esse olhar para o agora realmente ganhou força.

Não acho que isso tenha a ver com rejeição ao meu país — pelo contrário, amo o Brasil e nunca quis ficar fora definitivamente. Por isso, acho que a grande virada veio do fato de eu ter ido com prazo de validade: um ano. E com essa contagem regressiva na cabeça, eu sabia que precisava viver tudo intensamente. Sem desculpas. Sem adiar.

Foi assim que me entreguei: cada dia era uma chance de experimentar algo novo. Me abri para os sabores, os encontros, as ruas desconhecidas em meio às brechas de tempo livre. Sem medo, sem filtros. E foi nesse ritmo, longe do conhecido, que entendi uma coisa simples, mas poderosa: a vida está acontecendo agora. Então, ou a gente vive, ou deixa passar.

Hoje, mesmo de volta ao meu cotidiano no Brasil, tento manter essa prática viva. Porque todo dia é uma chance nova de começar. Todo dia é uma vida fresquinha sendo entregue nas nossas mãos. E cabe a nós escolher o que fazer com ela.

4. Ativar o olhar de turista

Tem coisa mais gostosa do que descobrir algo novo durante uma viagem? Ahhh, ver tudo pela primeira vez, se encantar com os detalhes, se surpreender com o inesperado… particularmente, acho uma delícia! E, olha, viver como imigrante tem uma vantagem enorme nesse sentido — talvez essa seja a melhor de todas, na minha opinião.

Se nem no meu Brasil, onde vivi por 30 anos, tive o privilégio de conhecer tudo, imagina em um país que tinha acabado de chegar e fica em outro continente? E é justamente isso que torna essa experiência tão especial: mudar de país é uma chance incrível de ativar o olhar de turista, aquele que se encanta com o simples, que observa, que se permite admirar o que está ao redor.

Mas o melhor dessa lição é que ela não precisa ficar restrita ao exterior. Depois de viver essa fase como imigrante, voltei ao Brasil com outro olhar. E tenho me esforçado para manter esse mesmo encantamento aqui também.

Nosso país tem seus problemas, claro. Mas que lugar do mundo não tem? A diferença é que agora eu presto mais atenção no que antes passava batido: um pôr do sol bonito, uma esquina colorida, o sorriso de alguém na rua. O Brasil é lindo, nosso povo é incrível. Às vezes, a gente só não está pronto para perceber!

Vista da Catedral de Sevilha, no monumento Setas – Foto: Mariana Kateivas/ Melhores Destinos

5. Nada é certo e recomeços são normais

Todo mundo sabe, no fundo, que nada é garantido na vida (a não ser a morte, como diz minha avó). Mas é quando você mora fora que essa verdade ganha outro peso.

Estar longe da zona de conforto te mostra, na prática, que recomeçar não é fracasso, é potência. Você se vê diante do novo, do incômodo, do imprevisível, e percebe que é mais adaptável e forte do que imaginava.

Sobreviver (e até florescer) no desconforto traz uma força interior que só quem vive essa experiência entende. Recomeçar vira combustível, não obstáculo. E a cada vez que você se reinventa, descobre o quanto pode ir além.

Real Alcazar em Sevilha – Foto: Mariana Kateivas/ Melhores Destinos

6. Saudade

Sem dúvida, o mais difícil de morar longe era sentir saudade de quem amo. A ausência do abraço da minha mãe no fim de um dia qualquer, o silêncio no lugar das brincadeiras com minha cachorra, os domingos sem o churrasco com meu pai ou as conversas sobre novela com a minha avó… tudo isso foi deixando um vazio que nenhum cenário bonito do mundo era capaz de preencher.

Claro, senti falta da cultura, da comida, do jeito brasileiro de viver. Mas era a saudade, essa palavra única que só o português sabe traduzir, que apertava o peito de um jeito que eu nem sabia que era possível.

Sempre acreditei que estar perto de quem a gente ama é um dos maiores privilégios. A pandemia mostrou isso para muita gente; para mim, só reforçou o que eu já sentia. E a dor ficou ainda mais profunda quando perdi minha melhor amiga de infância, amada Érica, enquanto estava morando na Espanha.

Apesar do conforto de saber que sempre demonstrei meu carinho por ela, não poder me despedir ou abraçar a família dela naquele momento tão doloroso me fez ressignificar tudo.

Reforcei a certeza de que tudo o que temos, no fim das contas, são as pessoas que amamos. E mais: que nem todos têm alguém por quem voltar.

Isso me deu um novo aprendizado e significado para a vida. E faz a gente prometer, de novo e de novo, que vai amar com presença, com intenção, com entrega sempre que puder.

E agora, com um motivo a mais, afinal, virei tia e dinda da linda Clara! Novo amor das nossas vidas, que tem “produção espanhola” e “fabricação brasileira”, haha. Pois foi o melhor fruto da temporada dos meus amados cunhados na Espanha.

Ganhei mais um motivo para voltar de peito aberto: virei titia da nossa lindeza Clara!

7. Amadurecimento

Se tem algo que a vida de imigrante ensina na marra, é amadurecer. Estar longe de tudo que é familiar, pessoas, rotina, idioma, cultura, te obriga a lidar com desafios novos quase todos os dias. E, para isso, é preciso ter jogo de cintura, resiliência e uma boa dose de coragem.

Quem já morou fora, talvez entenda essa sensação: é como se a gente vivesse cinco anos em um. Tudo é novo, intenso, cheio de descobertas e incertezas. Isso exige mais da gente, emocionalmente e mentalmente.

Não tem como sair dessa experiência do mesmo jeito que entrou. Você cresce. Você muda. E, no fim, percebe que amadurecer é menos sobre ficar pronto… e mais sobre se reinventar sempre que for preciso.

8. Comunicação é tudo

Desde que nascemos, a comunicação é essencial. Mas quando a gente muda de país, ela ganha uma importância ainda maior. Aprender um novo idioma com fluência me trouxe muito mais do que vocabulário: me rendeu amizades, autonomia, gentileza e pertencimento.

Falar bem o espanhol me permitiu conversar de verdade com as pessoas, ser mais atenciosa no dia a dia com os outros, não errar no pedido do açougue (sim, isso já aconteceu ) e, acima de tudo, me sentir parte de uma cultura que não era minha de origem, mas foi me acolhendo aos poucos.

Logo que cheguei à Espanha, o meu portunhol dava as caras nos meus diálogos com mais frequência do que gostaria, haha. Por isso, quando comecei a passar horas conversando em espanhol com amigos nativos (rindo, debatendo, errando e acertando) que senti, de verdade, que fazia parte daquele país.

Ali, naquela troca leve e natural, percebi que a fluência não é só na língua, é também na convivência. E foi nesse momento que dei meu check pessoal na vida de imigrante espanhola.

Morei por dois meses em um Airbnb para praticar o meu espanhol no dia a dia com locais e fiz amigos incríveis

Além de valorizar esse aprendizado, uma coisa ficou ainda mais clara para mim: aprendi a amar ainda mais o meu idioma.

Sim, o português pode ser complexo, cheio de regras e exceções. Mas é nele que eu me reconheço, me encaixo, me expresso com liberdade. É a língua onde cabem e traduzo todas as minhas emoções e jeitos de sentir.

Foi só ouvir aquele burburinho familiar (o sotaque, as risadas altas, o jeitinho de falar) na fila do voo de volta ao Brasil, que senti meu coração aquecer. Ali, mesmo ainda fora do país, eu já estava em casa. Porque língua materna não é só um código: é berço, é identidade, é a forma como, desde sempre, nos apresentamos ao mundo.

9. Ver o Brasil de outro jeito

Pode ter certeza: se você morar fora do Brasil, em algum momento vai se pegar fazendo comparações entre o novo e o antigo país.

Quando o assunto é segurança, por exemplo, é impossível não notar o contraste. Viver em constante estado de alerta, como acontece em muitas cidades brasileiras, é algo que muitos espanhóis nem conseguem imaginar. Essa diferença pesa, e nos faz refletir sobre o que normalizamos por aqui.

Mas o outro lado da balança também existe (e é lindo!). Porque, ao olhar de fora, comecei a enxergar com mais nitidez tudo aquilo que o Brasil tem de único e especial: nossas paisagens, nossa música, os sabores da nossa comida, o calor humano do nosso povo, o bom humor até nas adversidades.

Morar fora me ensinou a olhar para o Brasil com ainda mais carinho, a valorizar o que antes passava batido. Hoje, vejo com clareza aquilo que só a vivência brasileira tem: o famoso “puro suco do Brasil”, cheio de identidade, cor, e uma força que é só nossa.

Nada como voltar ao Brasil e aproveitar uma boa festa junina!

10. Fazer amigos

Se tem algo que transforma a experiência de migrar, é fazer amigos no novo país. Ter com quem contar quando tudo o que você conhecia está do outro lado do oceano é um baita conforto nos dias mais difíceis. Conhecer pessoas locais, ou até outros brasileiros que também estão longe de casa, faz tudo parecer mais leve, mais acolhedor.

Tive a sorte de cruzar o caminho de pessoas incríveis, que nos ajudaram mesmo quando não pedimos. Em especial, meus amigos Cris e Rafa, que se tornaram família. A presença deles fez toda a diferença na nossa caminhada e tornou cada dia mais feliz e cheio de afeto. No fim das contas, é isso: quem tem amigos, tem casa — em qualquer cantinho desse mundo.

11. Brasil não é para amadores

Sabe aquela frase clássica de que “o Brasil não é para amadores”? Pois é… não poderia ser mais verdadeira. Morar fora me ajudou a enxergar ainda mais as grandezas do nosso país: nossa cultura, nossa gente, nossas riquezas naturais. Mas também escancarou algo que sempre incomodou, a desigualdade brutal que enfrentamos todos os dias.

Mesmo sabendo que países como a Espanha também têm seus desafios, é impossível não se impressionar (e se frustrar) com o poder de compra que, mesmo em tempos difíceis, ainda permite que um trabalhador espanhol que ganha um salário mínimo, por exemplo, pague as contas, viaje e consiga se vestir bem.

Enquanto isso, no Brasil, milhares de pessoas mal conseguem sobreviver com o que ganham, mesmo sendo trabalhadores incansáveis. Ver isso de perto, fora da bolha, é doloroso.

É revoltante perceber o quanto nosso povo precisa se desdobrar para ter o mínimo, enquanto vivemos em um país absurdamente rico em recursos e potencial.

Mas como revolta, sozinha, não muda a realidade, resta a nós seguirmos estudando, nos fortalecendo, e buscando formas de transformar, aos poucos, a realidade que queremos viver. E mais: seguir valorizando cada vitória do nosso povo conquistada com esforço, já que no Brasil isso nunca é simples.

Uma vida na Espanha

É importante lembrar que esse é o meu olhar, baseado na minha experiência pessoal. Minha migração aconteceu de forma tranquila, cercada de segurança e ao lado de pessoas que amo — e reconheço o quanto isso é um privilégio.

Sei que, para muita gente, mudar de país é uma necessidade, uma busca por dignidade, por segurança ou por melhores oportunidades.

Os desafios enfrentados nesses outros casos são bem diferentes dos que vivi. Por isso, compartilho minha vivência com consciência de que existem muitas formas de migrar e nenhuma é igual à outra.

Trabalhando para o Melhores Destinos com a praia logo ali, em Cadiz, na Espanha

Esse é apenas um pequeno recorte da minha experiência. E se algo ficou claro nesse percurso, é que o mundo é imenso… e nós, minúsculos diante dele. Depois de conhecer outros países, viver como imigrante e encarar de perto os desafios dessa experiência, essa percepção só se aprofundou.

A sensação de grandiosidade lá fora não nos engrandece, faz justamente o contrário: nos lembra o quão pequenos, e ao mesmo tempo parte de algo tão maior, nós realmente somos. Quem usa esse repertório para se sentir superior não entendeu nada.

Viajar, migrar, viver fora… tudo isso só faz sentido quando nos transforma em pessoas mais humildes, empáticas e abertas. Porque quanto mais a gente conhece o mundo, mais nós entendemos que somos só um grãozinho nesse mundão incrível de Deus — e que isso, por si só, já é grandioso.

Uma das minhas experiências na Europa, por exemplo, foi uma viagem para Roma que fiz pelo Melhores Destinos. Se te interessar, veja o vídeo sobre o Vaticano:

Últimas

Os ventos do Nordeste e a rota das emoções: o Piauí entra no mapa mundial do kitesurf e do turismo esportivo de luxo

Foto: SETUR/Governo do Piauí De agosto a novembro, o Nordeste...

Vai avançar? Comissão do Senado aprova proposta que proíbe tarifa sem bagagem de mão

Mateus Tamiozzo O Congresso Nacional está se movimentando cada vez...

Começou o “Esquenta Black Friday” da MSC, com cruzeiros em promoção a partir de R$ 1.605 por pessoa

Daniel Akstein Batista MD - Estamos ainda em outubro, mas...

Grand Amazon Expedition: cruzeiro 5 estrelas all inclusive pela Amazônia a partir de R$ 2.359 mais cupom exclusivo

Cleverson Lima MD - Embarque no Grand Amazon Expedition e descubra...