Como São Paulo é também “cidade da garoa” e o Rio, a “cidade maravilhosa”, Moscou, uma das raras cidades russas cujo nome não sofreu alterações no decorrer dos séculos, tem também seus apelidos.
1. Grande aldeia
“Москва – большая деревня” [Moskvá – bolcháia derêvnia]
Moscou é uma grande aldeia. Parece ridículo, não é? Mas esta frase é muito usada e significa que “o mundo é pequeno”, já que, em Moscou, uma cidade de quase 12 milhões de habitantes, pode-se facilmente cruzar com conhecidos.
Outro significado por trás da expressão faz referência ao fato de que muitos residentes de Moscou saíram do interior, ou seja, uma forma de dizer que eles são “moscovitas de primeira geração” e seus antepassados são provenientes de áreas provinciais. Isso também implica certo esnobismo e a conotação de que a pessoa é “atrasada” em termos de tradições, comportamento ou linguagem.
Catarina, a Grande, foi a primeira a dizer: “Moscou é uma aldeia.” Nesse caso, ela provavelmente se referia ao fato de que Moscou não se parecia com São Petersburgo, uma cidade totalmente planejada para ser a capital do império. No entanto, Moscou foi fundada e construída como uma cidade desde o início.
Outro estrangeiro (sim, Catarina era estrangeira, como se pode ler aqui!), um personagem francês de “Guerra e Paz”, de Lev Tolstói, também disse que Moscou parecia uma aldeia. Mas, dessa vez, tratava-se de um elogio: ele queria dizer que a cidade era tão boa quanto o interior da França, especialmente em comparação com a imunda Paris da época.
2. Terceira Roma
“Третий Рим” [Triêti Rim]
Varvara Grankova
“Duas Romas caíram, uma terceira continua de pé e não haverá outra quarta”, disse o monge medieval Filoteu, referindo-se a Moscou — a segunda de que ele trata seria Constantinopla, sucessora direta de Roma. Essa ideia era popular entre os que buscavam transformar a Rus de Moscou em império. Moscou era vista como sucessora e importante centro cristão ortodoxo. Até mesmo a palavra “tsar” tem origem no “césar”, derivado de Júlio César.
Essa ideia do século 16 ganhou popularidade entre os filósofos de todo o mundo eslavo no século 19. Mas, depois da Revolução de 1917, ela perdeu força — apesar de os bolcheviques terem efetivamente transferido a capital de São Petersburgo para Moscou.
3. Cidade sobre sete colinas
“Город на семи холмах” [Górod na semi kholmakh]
Legion Media
O centro de Moscou fica sobre várias colinas. Na verdade, há até mais de sete, mas, como Roma costumava ser chamada de “cidade das sete colinas” e Moscou queria ser a terceira Roma, foram escolhidas sete principais: Borovítski, Sretênski, Tverskôi, Tri Gori, Tagânski, Lefórtovski, Vorobiôvi Góri. Do topo dessas colinas é possível se deleitar com paisagens urbanas deslumbrantes.
4. A primeira do trono
“Первопрестольная” [Pervoprestôlnaia]
Museu de Moscou
Este apelido significa literalmente “a cidade do primeiro trono”, ou seja, a primeira capital. A alcunha surgiu no século 18, quando Moscou deixou de ser capital, destronada por São Petersburgo — construída por Pedro, o Grande, para desempenhar essa função. Mas Moscou continuou a ser respeitada como a primeira capital do país, cidade que unificou a Rússia e onde os primeiros tsares foram coroados.
5. Cidade das Cúpulas Douradas
“Златоглавая” [Zlatoglávaia]
Galeria Tretiakov
“Cidade das cúpulas douradas” é outra alcunha que remonta à Idade Média. Ela apareceu entre os séculos 15 e 16, quando havia pequenas construções de madeira por toda a cidade. Os únicos edifícios altos eram as igrejas, e o campanário “Ivan, o Grande”, dentro do Kremlin, era o edifício mais alto da cidade — e era proibido construir qualquer coisa mais alta que ele. Na época, as cúpulas douradas das numerosas igrejas ortodoxas podiam ser vistas de praticamente qualquer ponto da cidade.
6. Cidade das Pedras Brancas
“Белокаменная” [Belokâmennaia]
Hoje, Moscou está associada à cor vermelha: afinal, era a capital do Império “Vermelho” soviético, tem a “Praça Vermelha”, o Kremlin de tijolos vermelhos e outros edifícios semelhantes.
No entanto, o primeiro Kremlin de pedra construído em Moscou por Dmítri Donskôi era branco, feito de calcário. As paredes de tijolos substituíram as brancas apenas no século 16. Depois disso, porém, muitos edifícios de pedra, principalmente igrejas, continuavam a ser construídos em branco, e havia outro enorme muro de defesa em Moscou, que cercava uma área conhecida como Béli Górod (“Cidade Branca”). No século 18, Catarina, a Grande, ordenou a demolição do muro, que foi substituído pela via Bulvarnoye Koltso (Anel dos Bulevares).
7. Porto dos Cinco Mares
“Порт пяти морей” [Port piati morei]
No mapa, Moscou não tem acesso a nenhum mar. Mas acontece que esse apelido foi criado por Iôssif Stálin, que o usou na grande inauguração do Canal de Moscou, que ligava os rios Moscou e Volga. Após a conclusão deste grande projeto de construção soviético, tornou-se possível chegar a cinco mares sem descer do navio: Mar de Azov, Negro, Branco, Báltico e Cáspio.
8. Cidade que não é feita de borracha
“Нерезиновая” [Nerezínovaia]
“Moscou não é feita de borracha”: as pessoas diziam isso o tempo todo na década de 1990. Isso significa que a cidade não pode ser esticada sem parar e acomodar todas as pessoas que desejam se mudar para lá. A ideia é bastante xenófoba, mas a frase era usada até mesmo por moscovitas não nativos, que tinham conseguido se instalar ali antes dos novos migrantes e não queriam concorrência.
9. Ponaiekhovsk
“Понаеховск” [Ponaiekhovsk]
Este é outro apelido xenófobo da cidade. O verbo “ponaekhat” significa “chegar em grande quantidade”, como ocorre com caravanas de migrantes. O “ponaiekhovsk” é o substantivo derivado desse verbo e se refere às pessoas que vão para Moscou em busca de uma vida melhor. “Понаехали!”, dizem os mais preconceituosos, significando “Ah, lá vêm de novo as caravanas!”
10. “Default City”
É assim mesmo, em inglês, o último apelido de Moscou: “default”, ou “a escolhida”. Os moscovitas se comportam como se não existissem outras cidades no mundo além da capital russa. Eles até brincam que “não há vida além do anel viário de Moscou”. Então, quando conversar com alguém que cita nomes de ruas sem esclarecer a cidade, pode ter certeza que ele é moscovita.
As pessoas de fora de Moscou tiram sarro dos moscovitas que pensam que moram na cidade “escolhida”, de onde vem o apelido. Com toda a sinceridade, quem não é da capital adora desdenhar da pobre Moscou, muitas vezes acusada de não ser sequer parte da “verdadeira Rússia”. Portanto, o apelido sarcástico é compreensível.
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