© Foto / FABIO MOTTA
Por: Luiza Ramos e Anastasiya Kyutt
Sputnik – Nesta semana, o Brasil foi eleito um dos dez países mais acolhedores do mundo, mas os números nacionais não refletem. A Sputnik Brasil falou com uma especialista em turismo sobre “os remédios” para reviver a competitividade do setor.
Nesta segunda-feira, dia 7, a plataforma de reservas Booking.com
divulgou os resultados do
Traveller Review Awards 2022, um prêmio promovido anualmente, no qual o Brasil está no 8º lugar no top de países como destinos turísticos mais acolhedores do mundo.
Esse tipo de ranking internacional funciona como elemento de orientação não só para o consumidor, satisfazendo a curiosidade de turistas e chamando sua atenção para os melhores destinos do planeta, mas também para quem trabalha no setor, inclusive para pensar em estratégias de promoção.
Isso ganha mais valor tendo em vista que, apesar de figurar bem nesses tipos de rankings, o Brasil
sofre para atrair turista estrangeiro justamente em um momento de recuperação e abertura de fronteiras pós-pandemia. A isso
apontam os dados da Organização Mundial do Turismo.
Como explicar isso, sendo que mesmo países que tiveram muitos casos de coronavírus, como os EUA e a Europa, estão agora em ascensão no turismo? E uma pergunta ainda mais interessante: como ajustar a estratégia brasileira no setor para o Brasil voltar a ser mais atraente? Estas e outras questões a Sputnik Brasil discutiu em entrevista com Mariana Aldrigui, professora de turismo e pesquisadora na USP e especialista em Políticas de Turismo Internacional.
Problema de imagem do Brasil
Infelizmente, a professora admite que, do ponto de vista de um turista internacional, especialmente da Europa ou dos Estados Unidos, o Brasil é “irrelevante“: já há alguns anos o país tem tido um problema sério de imagem internacional.
“A competição pela atenção desses mercados é acirradíssima“, em suas palavras. Então, todos os produtos e destinos do mundo vão investir pesado na propaganda, para atrair o turista que mora nos países mais ricos pelo padrão de consumo desses países.
Com a pandemia
o problema ainda piorou, uma série de preconceitos em relação ao turismo para o Brasil se consolidou, “de modo que o desafio, que se coloca a partir de agora e do ano que vem com a provável mudança de governo, é muito grande”, constata Mariana Aldrigui.
“Como a pandemia foi algo comum a todos os países, não me parece que é a gestão da pandemia que mudará o desempenho desses países.”
Vale destacar que a imagem de um destino não é criada em uma única campanha de marketing ou em um projeto de 3-4 meses. A gente é orientada ao longo de nossa vida, desde pequeno, nota a especialista. E, neste contexto, “a imagem dos EUA é quase invencível” na mentalidade do consumidor brasileiro padrão de turismo, seguidos pelos destinos europeus.
Porém, de outro lado, para um turista estrangeiro o Brasil significa uma “viagem exótica“, quer dizer, uma viagem para um lugar que sempre oferece algum risco.
“Então, os riscos de viajar para o Brasil na percepção do consumidor médio estão sendo aumentados, seja pela questão da pandemia, seja pelas notícias ligadas à violência, ao preconceito em relação a minorias, às enchentes, às queimadas. Tudo isso vai se colecionando na imagem internacional e a gente vai se afastando da cesta de compras desses turistas.”
Falta de gestão do Ministério do Turismo
Pelo tamanho do Brasil, o turismo interno foi muito importante e foi o que sustentou a preservação dos empregos e das empresas durante os primeiros oito meses de pandemia em 2020, segundo os dados da pesquisadora. E com a estabilização da vacinação, em julho de 2021, um crescente volume de pessoas viajou dentro do país.
Contudo, “não dá para apontar uma ação que tenha sido extremamente bem-sucedida” pela pasta responsável, “não só foi feito nada, como pior, a gente retrocedeu“, acredita a professora.
Recentemente houve uma elevação da carga tributária sobre a venda de produtos turísticos para os brasileiros que desejam ir para o exterior. Isso tira competitividade das empresas brasileiras, explica ela.
É preciso recuperar economia como um todo
Ao comentar as medidas necessárias que visam melhorar a situação atual, a professora ressalta que não faz nenhum sentido solicitar recursos públicos para um setor agora, quando a economia está “tão perdida e desorientada”, e uma parte da população tem passado fome.
“Absolutamente relevante entender que o turismo é um setor econômico muito diverso que prospera quando a economia do país está equilibrada, e quanto melhor a situação econômica mais viagens são realizadas dentro do próprio país e para o país.”
O que ajudará a recuperar competitividade do Brasil?
Na opinião da especialista, o desafio para gestão do turismo brasileiro não é algo de uma solução simplificada ou de um único projeto; precisa de coordenação de esforços de todas as equipes competentes.
Ao deixarmos ser competitivos, afirma ela, o Brasil precisa concretizar os passos seguintes:
renovação intelectual tanto na gestão nacional quanto nos estados;
projetos mais viáveis a atuais do ponto de vista econômico com muito uso de tecnologia;
trabalho na recuperação da imagem internacional do país, não só por meio de propaganda, mas também por políticas internas de promoção de qualidade de vida e de bem-estar social.
“A maior preocupação no momento é trabalhar com a reorganização da imagem internacional do Brasil para que ele volte a ser respeitado e ser alvo de investimentos e se apresentar como um destino interessante”, prioriza a professora.
A mensagem importa, e isso pode ser ilustrado pelo sucesso da campanha de vacinação: apesar do avanço da nossa imunização, isso é mal comunicado internacionalmente. Os EUA, por exemplo, pedem aos seus cidadãos que não viajem ao Brasil ou
alertam para o risco alto dessa viagem, mesmo que, segundo a professora, a situação de vacinação e de contaminação no Brasil seja mais segura do que nos EUA.
Melhorar a imagem do Brasil pode levar anos, é um trabalho que está ligado às demais ações do país e passa por uma renovação política, pela reconstrução das relações diplomáticas, pelo fortalecimento das alianças dos acordos bilaterais, comerciais e pela atração de investimento. A saída do Brasil continua sendo o fortalecimento do mercado inteiro e, talvez, a promoção aos vizinhos do país, os membros do Mercosul principalmente, acredita Mariana Aldrigui.
“É assim que a gente vai se mostrar para o mundo, como já fizemos em momentos anteriores. Há cerca de dez anos a gente tinha o Brasil muito bem na foto internacional. E a gente precisa recuperar esse espaço”, resumiu a especialista.